WGLEYSSON DE SOUZA

Roubar uma bola vale mais que tirar uma vida?
A discrepância das penas revela um sistema jurídico que ainda pesa mais para alguns do que para outros

No Brasil, a balança da Justiça parece pesar de acordo com o réu. Prova disso é a notícia que ganhou os portais nesta semana: o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal, votou pela condenação de um dos envolvidos no 8 de janeiro, Nelson Ribeiro Fonseca Júnior, a 17 anos de prisão. O motivo? Ele furtou uma bola de futebol autografada por Neymar, exposta na Câmara dos Deputados.
Vamos aos fatos: o furto é um crime, sim. A invasão do Congresso é gravíssima. Mas a pergunta que não quer calar é: 17 anos de cadeia por uma bola?
Enquanto isso, estupradores recebem 13 anos, autores de duplo homicídio são condenados a 15. E os crimes de colarinho branco? Gente como Sérgio Cabral, condenado a mais de 400 anos, já está em casa, de tornozeleira, postando resenhas de filme na internet. Geddel Vieira Lima, flagrado com malas de R$ 51 milhões em um apartamento em Salvador, circula longe das grades. A seletividade escancara um sistema que julga menos o crime e mais o cenário político em que ele acontece.
Não se trata de defender quem quebrou o patrimônio público ou violou a democracia. Mas de defender que pena justa é pena proporcional. Uma condenação não pode ser decidida pela simbologia do ato ou pelo calor do momento político. A Justiça precisa ser firme, mas também precisa ser coerente e isonômica. O Brasil não pode aceitar que alguém condenado por levar uma bola receba pena maior que um criminoso violento.
O 8 de janeiro foi um episódio vergonhoso da história recente — e deve ser julgado com rigor. Mas o risco que corremos é transformar a busca por Justiça em uma espécie de vingança estatal, onde o exemplo vale mais que o equilíbrio.
Enquanto isso, seguimos vendo corruptos bilionários, criminosos reincidentes e figuras públicas blindadas escapando das punições. A indignação seletiva virou regra, e a opinião pública, manipulada por manchetes, é levada a crer que ser duro com uns compensa a impunidade de outros.
O Brasil precisa de Justiça, não de espetáculo judicial. E é por isso que questionar a desproporção é um ato de responsabilidade — não de conivência.
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