WGLEYSSON DE SOUZA

Brasil em transe: quando cumprir a lei vira crime
A morte da brasileira no exterior revela o caos jurídico e moral do país

O Brasil vive tempos estranhos. Tão estranhos que cumprir a lei virou quase um ato criminoso — ou pelo menos, algo a ser atacado com todas as forças, dependendo de quem esteja no poder. O recente caso da morte trágica de uma brasileira no exterior gerou um furacão político nas redes e nos meios de comunicação. O motivo? O Itamaraty seguiu a lei. Simples assim.
A lei brasileira — mais precisamente o artigo 257 do Decreto 2.199/2017 — proíbe que o governo arque com despesas de traslado de corpos de brasileiros mortos no exterior. É uma norma dura, mas está em vigor há anos, desde o governo Michel Temer. Mas como o presidente hoje se chama Lula, o cumprimento da lei virou crime. Nas redes, a indignação era cega. Poucos procuraram saber o que de fato é permitido, o que é ilegal, o que é humanamente possível.
O Brasil não discute mais com base em fatos. Discutimos com base em quem está no poder. Se é Lula, tudo é culpa dele. Se fosse Bolsonaro, tudo seria perseguição. Viramos reféns de uma polarização que transformou o debate em grito, a política em torcida e a Constituição em um amontoado de “emendas úteis” para cada lado.
A mesma sociedade que condenou Dilma por "pedaladas fiscais" viu presidentes seguintes — de todas as vertentes — usarem os mesmos atalhos e darem outros nomes às mesmas práticas. E ninguém se indigna. Porque hoje, mais do que certo ou errado, importa quem cometeu. A ética perdeu para a conveniência.
E o que isso tem a ver com a Paraíba, com o Senado, com as eleições? Tudo. Porque enquanto Brasília grita, os bastidores correm silenciosamente. Senadores são definidos hoje, nos acordos de bastidor com prefeitos. Quem tem a caneta tem o poder de derramar milhões em emendas parlamentares. Quem está fora do poder, promete para 2028. E promessas, sabemos, valem pouco diante do concreto. O dinheiro chega onde há tinta na caneta.
Vivemos em um país onde as águas correm para o mar, não para o sertão. O poder ainda é a força motriz da política. Quem tem cargo, distribui; quem não tem, mendiga. E nessa lógica, as alianças locais, as disputas por espaço no Senado e as eleições municipais viram tabuleiros de um xadrez que não considera o povo como peça principal.
Até quando vamos aceitar isso como normal? Até quando o Brasil será governado por narrativas e não por propostas reais? Até quando o que vale é quem comete o erro — e não o erro em si?
Essa coluna não é sobre Lula ou Bolsonaro. É sobre um Brasil que perdeu o rumo do bom senso.
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